Zine Royale


Gazy Andraus
novembro 28, 2009, 2:00 pm
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Vou postar sobre o trabalho de cada participante da Zine Royale #4

Abaixo uma página do Gazy Andraus, o esboço e depois a final.

Na sequência coloco parte do texto produzido pelo autor onde faz uma reflexão sobre sua história. Quem conhece o trabalho do Gazy sabe do forte embasamento teórico em que sua obra está apoiada.

Assim que a revista for lançado, coloco aqui o texto na íntegra.

HQ inédita: “A vida em um corazón!”

Autor: Gazy Andraus

Pensando em criar um HQ para o 4º. Número da revista independente Zine Royale, editada pelo competente e criativo Jozz, imaginei de que forma adentraria no tema pedido: um entrecruzamento da cultura/língua brasileira (em que se fala o português) e a espanhola (América Latina), com o castelhano.

Assim, numa fase recente, em que coincidências junguianas me fizeram pensar sobre o coração (órgão vital dos seres vivos animais e hominais), principiei ao som de músicas, a criar uma HQ fantástico-filosófica, em que me surgiram palavras e imagens na mescla das línguas portuguesa e castelhana, bem como a imagem de um dragão. Esse meu processo criativo demanda que não só os desenhos e a seqüência sejam intuídas, mas igualmente os textos que “derramo” nas páginas: dessa vez, me vieram “mixados” em português e castelhano, chegando a escrever intuitivamente como bem o fazem alguns escritores da escrita automática surrealista (ou sem medo de criar, se fosse o caso, como o escritor brasileiro Guimarães Rosa que debandava neologismos). É por isso que, tal qual a primeira página da minha HQ mostrando uma estranheza visual que só depois se esclarece nas páginas seguintes com o dragão, meu texto pode passar certa “estranheza” com a aparente mixórdia verbal que lancei nas páginas!

Agora, “A vida em um corazón”, em relação à sincronicidade junguiana tem a ver com uma metáfora que permeou-me durante e depois da elaboração dessa nova HQ, ao descobrir que um mesmo ideograma chinês representa o coração e mente, lendo sobre um fato já ocorrido com Jung, conforme se vê na citação abaixo:

“Pouco a pouco aprendi a integrar ao meu coração e à minha mente. Em chinês, os caracteres para o coração e mente são iguais, o que me lembra de algo que li na autobiografia de Carl Jung. Quando viajou ao Arizona na década de 1920, Jung conheceu um índio velho cujo nome era Lago Azul. Quando Jung perguntou a ele sobre o que pensava dos brancos, Lago Azul respondeu que achava que eram loucos. Quando Jung lhe perguntou por que, Lago Azul explicou que parecia que estavam sempre agitados – correndo sem parar atrás das coisas – e que só conseguiam pensar com a cabeça.

Jung perguntou-lhe, então, de onde ele tirara aquelas idéias. Lago Azul apontou para o coração. Jung disse, então, que pela primeira vez na vida encontrara alguém que falava a verdade sobre a cultura ocidental.”

(CHIA, Mantak; HUANG, Tao. Porta para todas as maravilhas – uma aplicação do Tao Te King. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 35.)